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ESPERANÇA [Vicente de Carvalho]
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
magtoo
quarta-feira, 13 de maio de 2009
felicidade
Postado por TYTAN às 18:16 0 comentários
respostas na sombra
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RESPOSTAS NA SOMBRA [Olavo Bilac]
"Sofro... Vejo envasado em desespero e lama
Todo o antigo fulgor, que tive na alma boa;
Abandona-me a glória; a ambição me atraiçoa;
Que fazer, para ser como os felizes?" — Ama!
"Amei... Mas tive a cruz, os cravos, a coroa
De espinhos, e o desdém que humilha, e o dó que infama;
Calcinou-me a irrisão na destruidora chama;
Padeço! Que fazer, para ser bom?" — Perdoa!
"Perdoei... Mas outra vez, sobre o perdão e a prece,
Tive o opróbrio; e outra vez, sobre a piedade, a injúria;
Desvairo! Que fazer, para o consolo?" — Esquece!
"Mas lembro... Em sangue e fel, o coração me escorre;
Ranjo os dentes, remordo os punhos, rujo em fúria...
Odeio! Que fazer, para a vingança?" — Morre!
Postado por TYTAN às 18:12 0 comentários
salomão e a rainha de saba
"O rei Salomão deu à rainha de Sabá o
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que ela lhe desejou, e lhe pediu, afora
os presentes que ele mesmo lhe deu
com liberalidade real. A rainha voltou, e
se foi para o seu reino com os seus servos."
(REIS, L. III, cap. X, 13.)
"Que mais queres? Sião? e, entre os bosques sombrios,
O meu colar de cem cidades deslumbrantes?
O Líbano, pompeando em paços, em mirantes,
Em cedros, em pavões, em corças, em bugios?
O povo de Israel, em tribos formigantes
Do Eufrates ao mar Morto e o Egito? Os meus navios,
As esquadras de Hirão, coalhando o oceano e os rios,
Atestadas de prata e dentes de elefantes?
O meu leito, ainda olente e morno do teu sono?
O cetro? O gineceu, e a guarda, e as mil mulheres
Como escravas, rojando aos teus pés? O meu trono?
Os vasos do holocausto? O templo de ouro e jade?
A ara, em sangue e fulgor, ante Jeová?... Que queres?"
- "O teu último beijo... o deserto... e a saudade..."
Postado por TYTAN às 17:56 0 comentários
terça-feira, 5 de maio de 2009
saudade
Noites de junho. O caboré com frio, Saudade - asa de dor do pensamento| Saudade - o Parnaíba - velho monge
Saudade - olhar de minha mãe rezando
e o pranto lento deslizando em fio
saudade amor da minha terra... o rio
cantigas de águas claras soluçando.
ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando...
e à noite as folhas lívidas cantando
a saudade infeliz de um sol de estio.
gemidos vãos de canaviais ao vento...
Ai, mortalhas de neve sobre a serra.
as barbas brancas alongando... e ao longe
o mugido dos bois da minha terra...
Postado por TYTAN às 04:02 0 comentários