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magtoo

sábado, 13 de dezembro de 2008

dialogo

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Diálogo

O mancebo perfeito e o velho humilde e rude
Viram-se. E disse ao velho o mancebo perfeito:
"Glória a mim! sorvo o céu num hausto do meu peito!"
E o velho: "Engana o céu... Tudo na terra ilude..."

"Rebentam roseirais do chão em que me deito!"
"A alma da noite embala a minha senectude..."
"Quando acordo, há um clarão de graça e de saúde!"
"Pudesse ser perpétua a calma do meu leito!"

"Quero vibrar, agir, vencer a Natureza,
Viver a Vida!" "A Vida é um capricho do vento..."
"Vivo, e posso!" "O poder é uma ilusão da sorte..."

"Herói e deus, serei a beleza!" "A beleza
É a paz!" "Serei a força!" "A força é o esquecimento..."
"Serei a perfeição!" "A perfeição é a morte!"

olavo bilac

pedidos

O pobre pede pão. O nobre pede o trono.
O santo pede o altar, o crente pede a missa,
e quem das leis sociais sofre amargo abandono
ergue as mãos para o Céu, pedindo por justiça.

Quem ama pede amor. O insone pede o sono.
O mártir pede a cruz, e pede o herói a liça.
Pede o inverno o verão; a primavera o outono,
e o sábio pede a luz da verdade castiça!

Quem luta pede a paz. O enfermo pede a cura.
O verme pede a terra e a águia pede a altura,
e quem sofre a opressão pede a mão que o redima.

E o Poeta, também, seguindo a mesma norma,
é um mendigo a pedir a pureza da Forma,
a beleza da Idéia e a riqueza da Rima!

Atos Fernandes

o adeus de teresa

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O ADEUS DE TERESA

CASTRO ALVES

A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta
a correnteza,
A valsa nos levou nos giros
seus...
E amamos juntos... E depois
na sala
"Adeus" eu disse-lhe
a tremer co'a fala...

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

Passaram tempos... sec'los de delírio
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse — "Voltarei!... descansa!...
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...

E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

Fonte: www.dominiopublico.gov.br

o derradeiro amor de Lord Byron

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O DERRADEIRO AMOR DE BYRON
(OS ESCRAVOS)

CASTRO ALVES

Ét, puisque tôt ou tard l'amour huntain s'oublie,
Il est d'une grande âme et d'un heureux destin?
D'aspirer comme toi pour un amour divin!
ALFRED DE MUSSET

I

Num desses dias em que o Lord errante
Resvalando em coxins de seda mole...
A laureada e pálida cabeça
Sentia-lhe embalar essa condessa,
Essa lânguida e bela Guiccioli ...

II

Nesse tempo feliz... em que Ravena
Via cruzar o Child peregrino,
Dos templos ermos pelo claustro frio...
Ou longas horas meditar sombrio
No túmulo de Dante — o Gibelino...

III

Quando aquela mão régia de Madona
Tomava aos ombros essa cruz insana...
E do Giaour o lúgubre segredo,
E esse crime indizível do Manfredo
Madornavam aos pés da Italiana ...

IV

Numa dessas manhãs... Enquanto a moça
Sorrindo-lhe dos beijos ao ressábio,
Cantava como uma ave ou uma criança...
Ela sentiu que um riso de esperança
Abria-lhe do amante lábio a lábio...

V

A esperança! A esperança no precito!
A esperança nesta alma agonizante!
E mais lívida e branca do que a cera
Ela disse a tremer: — "George, eu quisera
Saber qual seja... a vossa nova amante".

VI

— "Como o sabes?. . . " — "Confessas?" — "Sim! confesso. . . "
— "E o seu nome. . . " — "Qu'importa?" — "Fala Alteza!. . . "
— "Que chama douda teu olhar espalha,
És ciumenta?. . . " - "Mylord, eu sou de Itália!"
— "Vingativa?. . . " - "Mylord, eu sou Princesa!. . . "

VII

— "Queres saber então qual seja o arcanjo
Que inda vem m'enlevar o ser corruto?
O sonho que os cadáveres renova,
O amor que o Lázaro arrancou da cova
O ideal de Satã?. . . " — "Eu vos escuto!"

VIII

— "Olhai, Signora... além dessas cortinas,
O que vedes?. . . " — "Eu vejo a imensidade!. . . "
- "E eu vejo. .. a Grécia... e sobre a plaga errante
Uma virgem chorando..." — "É vossa amante?..."
— "Tu disseste-o, Condessa!" É a Liberdade!!!. . ."

Fonte: www.secrel.com.br

confusões religiosas

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Confusões Religiosas

As pessoas em geral se dizem crentes ou descrentes , mas a regra é uma confusão e  poucas pessoas sabem no que realmente acreditam.
Em primeiro lugar confudem agnostico com ateu; ateu é aquele que não crê em Deus, agnostico é o que acredita que não é possivel chegar a uma conclusão a respeito.  Conceitua que o universo está por conta propria , sem interferencia de ninguem.]
Nas crenças religiosas a confusão piora e os cristãos são campeões nisso. O que é ser cristão? O resumo da doutrina esta na oração CREDO , mas poucos a conhecem e quem conhece dá enfase a  coisas que não tem importancia nenhuma.
Em geral o cristão virtuoso acredita que existe  uma alma , onde está alojada o ‘eu’,que sobrevive ao corpo e aguarda a hora de ir para o ceu ,num lugar de penitencia chamado purgatorio,  pasmem senhores, isto naõ está no CREDO; o que Cristo prometeu aos cristãos virtuosos é a RESURREIÇÂO,ou seja uma vida eterna em um corpo imortal.. Assim um apostolo disse  no Evangelho;  “se Crirto não ressucitou a nossa crença é vã”.
Cristo disse  que a principal virtude cristã é amar ao proximo; a maioria entende  que o proximo é a familia, então cuidam da familia e o assunto de ser cristão está resolvido.  Não está não, Cristo disse claramente que a familia não vale,  “quem são minha mãe e meus irmãos?”.  Cuidam muito melhor da familia os hindus e os chineses,  os primeiros politeistas e os segundos ateus, enquanto os que se dizem cristãos,não respeitam os mais velhos, tendo com eles  o comportamento de psicopatas desprovidos de compaixão .
E a crença? Todos os que se dizem cristãos , se dizem crentes,ora senhores a  verdadeira crença é um privilegio dos inocentes ,si la inocence est perdue. pelo conhecimento da realidade das coisas~,  não tem retorno, tem que assumir ,e ir sózinho ganhar o pão com o suor de seu rosto.

Jcf–-dez 2008

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

São Paulo-----duas épocas

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

proverbios

 

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Você pode se distanciar de quem está correndo atrás de você, mas não  do que está correndo dentro de você.
Provérbio Ruandês
 

Saber e não fazer é ainda não saber.
Provérbio Zen

 
Existem três tipos de pessoas: as que deixam acontecer, as que fazem
acontecer e as que perguntam o que aconteceu.
Provérbio Escocês 
 
 
Nunca xigue a mãe do crocodilo, a menos que você já tenha  atravessado o rio. provérbio haitiano 
 
 
O bom é não fazer nada e descansar depois.
Provérbio espanhol 


O maior dos erros é a pressa antes do tempo e a lentidão diante da 
oportunidade. 
provérbio árabe 
 
 
Ouça, ou sua língua te manterá surdo.
Provérbio indígena norte-americano 
Teu segredo é teu prisioneiro. Uma vez libertado, volta contra ti e 
te aprisiona. 
provérbio oriental 


Quando o machado entrou na floresta, as árvores disseram: o cabo é
dos nossos! 
Provérbio turco 

Se um homem diz que você se parece com um camelo, não ligue, mas se
dois homens dizerem, olhe-se em um espelho. 
Provérbio Árabe 
 
Proximidade sem conflito existe apenas no cemitério.
Provérbio Finlandês

Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama. 
Provérbio Africano 

Diga-me e eu esquecerei. Mostre-me e eu lembrarei. Envolva-me e eu
aprenderei.
Provérbio indígena norte-americano 

Os homens são como tapetes: às vezes precisam ser sacudidos. 
Provérbio árabe 

Amizade é um caminho que desaparece na areia se não se pisa 
constantemente nele. 
Provérbio Africano 

A verdade é como a malagueta: ela arde. 
Provérbio guineense 
Se o seu problema tem solução, então não há com o que se preocupar. 
E se o seu problema não tem solução, toda preocupação será em vão. 
Provérbio tibetano 

Quem acredita é feliz, quem duvida é sábio. 
Provérbio húngaro 
 
Pregador: pessoa que parece saber mais do outro mundo do que deste. 
Provérbio celta 
 
Um pai é um banqueiro concedido pela natureza. 
Provérbio Francês 
O bêbado fala o que o sóbrio pensa. 
Provérbio judaico

domingo, 2 de novembro de 2008

loucos e santos

 
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LOUCOS E SANTOS

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril. 
 
(Oscar Wilde)
 
"Sou louco porque vivo em um mundo que não merece minha lucidez." (Bob Marley)

! "ACASO"

"Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso. "

(Antoine de Saint-Exupéry)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

o moço e o velho

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dialogo

O mancebo perfeito e o velho humilde e rude
Viram-se. E disse ao velho o mancebo perfeito:
"Glória a mim! sorvo o céu num hausto do meu peito!"
E o velho: "Engana o céu... Tudo na terra ilude..."

"Rebentam roseirais do chão em que me deito!"
"A alma da noite embala a minha senectude..."
"Quando acordo, há um clarão de graça e de saúde!"
"Pudesse ser perpétua a calma do meu leito!"

"Quero vibrar, agir, vencer a Natureza,
Viver a Vida!" "A Vida é um capricho do vento..."
"Vivo, e posso!" "O poder é uma ilusão da sorte..."

"Herói e deus, serei a beleza!" "A beleza
É a paz!" "Serei a força!" "A força é o esquecimento..."
"Serei a perfeição!" "A perfeição é a morte!"

domingo, 26 de outubro de 2008

Morte de Moema

Santa Rita Durão

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Corre a ver o espetáculo, assombrada:

E ignorando a ocasião da estranha empresa,

Pasma da turba feminil, que nada.

Uma que às mais precede em gentileza,

Não vinha menos bela, do que irada;

Era Moema, que de inveja geme,

E já vizinha à nau se apega ao leme...

Bárbaro (a bela diz:) tigre e não homem...

Porém o tigre, por cruel que brame,

Acha forças no amor, que enfim o domem;

Só a ti não domou, por mais que eu te ame.

Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,

Como não consumis aquele infame?

Mas pagar tanto amor com tédio e asco...

Ah! que corisco és tu... raio... penhasco!

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,

Pálida a cor, o aspecto moribundo;

Com mão já sem vigor, soltando o leme,

Entre as salsas escumas desce ao fundo.

Mas na onda do mar, que, irado, freme,

Tornando a aparecer desde o profundo,

Ah! Diogo cruel! - disse como mágoa, -

E sem mais vista ser, sorveu-se na água

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

o califa

banos-arabes


O Califa


No outro tempo em Bagdá Almansor, o Califa,
Um palácio construiu todo de ouro: a alcatifa
De jaspe, a colunata em pórfiro e o frontal
De toda a pedraria asiática, oriental;
Em frente desse asilo em piscinas de luxo
Chovia áurea poeira as fontes em repuxo

 

Ora, ali perto havia em frente ao monumento
Uma choça mesquinha, esfarrapada ao vento,
Quasi a cair, humilde e tristonha mansão
De um velho pobre, velho e simples tecelão.
Essa mísera casa, ao certo transtornava
A suntuosa impressão do Palácio. Causava
Não sei que dor, talvez asco. Desagradável,
Tanta riqueza ao pé de choça miserável!
Convinha, pois destruí-la. E ao velho tecelão
Oferecem dinheiro, e o velho disse: "—
Não
Guardai vosso ouro todo; esta casa que habito
Nunca será vendida, antes seja eu maldito,
Arrasai-a, porquanto é-rvos fácil poder.
Nela morreu meu pai e nela hei de eu morrer".
E à resposta do velho o califa Almansor
Esteve a meditar. Um dos servos: — "Senhor!
Sois poderoso e rei, vós podeis sem vexame
Essa casa arrasar, já e já, sem exame,
Pois vós! retroceder diante de um tecelão!"
Almansor, o Califa ergueu-se e disse: "
__ Não!
Eu não quero destruir a mesquinha choupana,
Quero-a de pé, bem junto a mim, essa cabana,
Porquanto a geração dos meus filhos se expande,
E quero que cada um a refletir, sem custo,
Vendo o palácio diga: — "Ave! Almansor foi grande!'
E vendo a pobre choça: — "Ele foi mais: — foi justo!"
Poesias.

julio ribeiro

cimitarra

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

o juramento do arabe

Arabs on Horses 2 


O Juramento do Árabe

Baçus, mulher de Ali, pastora de camelas,
Viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,
Vail, chefe minaz de bárbara pujança,
Matar-lhe um animal. Baçus jurou vingança,
Corre, célere voa, entra na tenda e conta
A um hóspede de Ali a grave e inulta afronta,
"Baçus, disse tranquilo o hóspede gentil,
Vingar-te-ei com meu braço, eu matarei Vail."
Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira
Da guerra pertinaz, horrível, carniceira
Que as tribos dividiu. Na Luta fratricida,
Omar, filho de Anru, perdera o alento e a vida.
Anru, que lanças mil aos rudes prélios leva,
E que, em sangue inimigo, irado, os ódios ceva,
Incansável procura, e é sempre em balde, o vil
Matador de seu filho, o traidor Mualhil.
Uma noite, na tenda, a um moço prisioneiro,
Recém-colhido em campo, o indómito guerreiro
Falou, severo, assim:
" Escravo, atende e escuta:
Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta,
Em que vive o tridor Mualhil, diz a verdade;
Dá-me que o alcance vivoi, e é tua a liberdade!"
E o moço perguntou:
"É por Alá que o juras?"
"Juro" - o chefe tornou -
"Sou o homem que procuras!
Mualhil é o meu nome, eu fui que espedacei
a lança de teu filho, e aos pés o subjuguei!"
E intrépido, fitava o atónito inimigo.
Anru volveu: "És livre, Alá seja contigo!"
Gonçalves Crespo, de "Nocturnos"

0 estudante alsaciano

-patriote

 

 

O estudante alsaciano

Antigamente, a escola era risonha e franca,
Do velho Professor as cãs, a barba branca,
Infundiam respeito, impunham simpatia,
Modelando as feições do velho, que sorria
E era como criança em meio das crianças.
Como ao pombal correndo em bando as pombas mansas,
Corriam para a escola; e nem sequer assomo
De aversão ou desgosto, ao ir para ali como
Quem vai para uma festa. Ao começar o estudo,
Eles, sem um pesar, abandonavam tudo,
E submissos, joviais, nos bancos em fileiras,
Iam todos sentar-se em frente das carteiras,
Atentos, gravemente, uns pequeninos sábios.
E o velho professor, tendo sempre nos lábios
Uma frase a animar aquele bando imbele,
Ia ensinando a este, ia emendando áquele,
De manso, com carinho e paternal amor.
Por fim, tudo mudou. Agora o professor,
Um grave pedagogo, é austero e conciso;
Nunca os lábios lhe abriu a sombra de um sorriso.
E aos pequenos mudou em calabouço a escola!
Pobres aves, sem dó, metidas na gaiola!
Lá dentro, hoje, o francês é lí ngua morta e muda:
Unicamente o alemão ali se fala e estuda,
São alemães o mestre, os livros e a lição;
A Alsácia é alemã; o povo é alemão,
Como na própria pátria é triste ser proscrito!
Ferquentava também a escola um rapazito
De severo perfil, enérgico, expressivo,
Pálido, magro, o olhar inteligente e vivo
Mas de í ntima tristeza aquele olhar velado
Modesto no trajar, de luto carregado...
-Pela Pátria, talvez! - Doze anos só teria.
O mestre, de uma vez, chamou-o a geografia:
-"Diz-me cá, rapaz... Que é isso? estás de luto?
Quem te morreu?"
-"Meu pai, no último reduto,
Em defesa da Pátria!"
-"Ah! sim, bem sei, adiante...
Tu tens assim um ar de ser bom estudante,
Quais são as principais nações da Europa? Vá!"
-"As principais nações são... a França..."
-"Hein? que é lá?...
Com que então, a primeira a França!Bom começo!
De todas as nações, pateta, que eu conheço,
Aquela que mais vale, a que domina o mundo,
Nas grandes concepções e no saber profundo,
Em riqueza e esplendor, nas letras e nas artes,
Que leva o seu domínio ás mais remotas partes,
A mais nobre na paz, a mais forte na guerra,
De onde irradia a ciencia a iluminar a terra,
A maior, a mais bela, a que das mais desdenha,
Fica-o sabendo tu, rapaz, é a Alemanha!"
Ele sorriu com ar desprezador e altivo,
E a cabeça agitou num gesto negativo.
E tornou com voz firme:
-"A França é a primeira!"
O mestre furioso, ergue-se da cadeira,
Bate o pé e uma praga enérgica se lhe escapa.
-"Sabes onde está a França? Aponta-ma no mapa!"
O aluno ergue-se então, os olhos fulgurantes,
O rosto afogueado; e enquanto os estudantes
Olham cheios de assombro aquele destemido,
Ante o mestre, nervoso, audaz e comovido,
Tí mido feito herói, pigmeu tornado atleta,
Desaperta febril, a sua blusa preta,
E batendo no peito, impávida, a criança

Exclama:
-"É aqui dentro! aqui é que está a França!"

Acácio Antunes

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

destaques culturais brasileiros

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Machado de Assis: obra completa

Plano de Desenvolvimento da Educação

Música Erudita Brasileira

Obras Machado de Assis

Shakespeare em português

Vídeo Paulo Freire Contemporâneo

Poesia de Fernando Pessoa

Literatura Infantil em português

A Divina Comédia em português

Publicações sobre educação

Obras de Joaquim Nabuco

Hinos brasileiros (coral e instrumental)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

julgamento de Frinéia

O Julgamento de Frinéia
por Olavo Bila

Mnezarete, a divina, a pálida Frinéia,
Comparece ante a austera e rígida assembléia
Do Areópago supremo. A Grécia inteira admira
Aquela formosura original, que inspira
E dá vida ao genial cinzel de Praxíteles,
De Hiperides à voz e à palheta de Apeles.

Quando os vinhos, na orgia, os convivas exaltam
E das roupas, enfim, livres os corpos saltam,
Nenhuma hetera sabe a primorosa taça,
Transbordante de Cós, erguer com maior graça,
Nem mostrar, a sorrir, com mais gentil meneio,
Mais formoso quadril, nem mais nevado seio.

Estremecem no altar, ao contemplá-la, os deuses,
Nua, entre aclamações, nos festivais de Elêusis...
Basta um rápido olhar provocante e lascivo:
Quem na fronte o sentiu curva a fronte, cativo...
Nada iguala o poder de suas mios pequenas:
Basta um gesto, - e a seus pés roja-se humilde Atenas...
Vai ser julgada. Um véu, tornando inda mais bela
Sua oculta nudez, mal os encantos vela,
Mal a nudez oculta e sensual disfarça.
cai-lhe, espáduas abaixo, a cabeleira esparsa...
Queda-se a multidão. Ergue-se Eutias. Fala,
E incita o tribunal severo a condená-la:

"Elêusis profanou! É falsa e dissoluta,
Leva ao lar a cizânia e as famílias enluta!
Dos deuses zomba! É ímpia! é má!" (E o pranto ardente
Corre nas faces dela, em fios, lentamente...)
"Por onde os passos move a corrupção se espraia,
E estende-se a discórdia! Heliastes! condenai-a!"

Vacila o tribunal, ouvindo a voz que o doma...
Mas, de pronto, entre a turba Hiperides assoma,
Defende-lhe a inocência, exclama, exora, pede,
Suplica, ordena, exige... O Areópago não cede.
"Pois condenai-a agora!" E à ré, que treme, a branca
Túnica despedaça, e o véu, que a encobre, arranca...

Pasmam subitamente os juizes deslumbrados,
- Leões pelo calmo olhar de um domador curvados:
Nua e branca, de pé, patente à luz do dia
Todo o corpo ideal, Frinéia aparecia
Diante da multidão atônita e surpresa,
No triunfo imortal da Carne e da Beleza.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A tenteção de Xenocrates






O EROTISMO E A POESIA PARNASIANA EM A TENTAÇÃO DE XENÓCRATES
2-1-2008 0:0

Francílio B. S. de M. Trindade

 


Nada turbava aquela vida austera:
Calmo, traçada a túnica severa,
Impassível, cruzando a passos lentos
As aléias de plátanos, - dizia
Das faculdades da alma e da teoria
De Platão aos discípulos atentos.

Ora o viam perder-se, concentrado,
No labirinto escuso de intricado,
Controverso e sofístico problema,
Ora os pontos obscuros explicando
Do Timeu, e seguro manejando
A lâmina bigúmea do dilema.

Muitas vezes, nas mãos pousando a fronte,
Com o vago olhar perdido no horizonte,
Em pertinaz meditação ficava.
Assim, junto às sagradas oliveiras,
Era imoto seu corpo horas inteiras,
Mas longe dele o espírito pairava.

Longe, acima do humano fervedouro,
Sobre as nuvens radiantes,
Sobre a planície das estrelas de ouro;
Na alta esfera, no páramo profundo
Onde não vão, errantes,
Bramir as vozes das paixões do mundo:

Aí, na eterna calma,
Na eterna luz dos céus silenciosos,
Voa, abrindo, sua alma
As asas invisíveis,
E interrogando os vultos majestosos
Dos deuses impassíveis...

E a noite desce, afuma o firmamento...
Soa somente, a espaços,
O prolongado sussurrar do vento...
E expira, às luzes últimas do dia,
Todo o rumor de passos
Pelos ermos jardins da Academia.

E, longe, luz mais pura
Que a extinta luz daquele dia morto
Xenócrates procura:
- Imortal claridade,
Que é proteção e amor, vida e conforto,
Porque é a luz da verdade.


II


Ora Laís, a siciliana escrava
Que Apeles seduzira, amada e bela
Por esse tempo Atenas dominava...

Nem o frio Demóstenes altivo
Lhe foge o império: dos encantos dela
Curva-se o próprio Diógenes cativo.

Não é maior que a sua a encantadora
Graça das formas nítidas e puras
Da irresistível Diana caçadora;

Há nos seus olhos um poder divino;
Há venenos e pérfidas doçuras
Na fita de seu lábio purpurino;

Tem nos seios - dois pássaros que pulam
Ao contacto de um beijo, - nos pequenos
Pés, que as sandálias sôfregas osculam.

Na coxa, no quadril, no torso airoso,
Todo o primor da calipígia Vênus
- Estátua viva e esplêndida do Gozo.

Caem-lhe aos pés as pérolas e as flores,
As dracmas de ouro, as almas e os presentes,
Por uma noite de febris ardores.

Heliastes e Eupátridas sagrados,
Artistas e Oradores eloqüentes
Leva ao carro de glória acorrentados...

E os generais indômitos, vencidos,
Vendo-a, sentem por baixo das couraças
Os corações de súbito feridos.


III


Certa noite, ao clamor da festa, em gala,
Ao som contínuo das lavradas taças
Tinindo cheias na espaçosa sala,

Vozeava o Ceramico, repleto
De cortesãs e flores. As mais belas
Das heteras de Samos e Mileto

Eram todas na orgia. Estas bebiam,
Nuas, à deusa Ceres. Longe, aquelas
Em animados grupos discutiam.

Pendentes no ar, em nuvens densas, vários
Quentes incensos índicos queimando,
Oscilavam de leve os incensários.

Tíbios flautins finíssimos gritavam;
E, as curvas harpas de ouro acompanhando,
Crótalos claros de metal cantavam...

O espúmeo Chipre as faces dos convivas
Acendia. Soavam desvairados
Febris acentos de canções lascivas.

Via-se a um lado a pálida Frinéia,
Provocando os olhares deslumbrados
E os sensuais desejos da assembléia.

Laís além falava: e, de seus lábios
Suspensos, a beber-lhe a voz maviosa,
Cercavam-na Filósofos e Sábios.

Nisto, entre a turba, ouviu-se a zombeteira
Voz de Aristipo: "És bela e poderosa,
Laís! mas, por que sejas a primeira,

A mais irresistível das mulheres,
Cumpre domar Xenócrates! És bela...
Poderás fasciná-lo se o quiseres!

Doma-o, e serás rainha!" Ela sorria.
E apostou que, submisso e vil, naquela
Mesma noite a seus pés o prostraria.
Apostou e partiu...


IV


Na alcova muda e quieta,
Apenas se escutava
Leve, a areia, a cair no vidro da ampulheta...
Xenócrates velava.

Mas que harmonia estranha,
Que sussurro lá fora! Agita-se o arvoredo
Que o límpido luar serenamente banha:
Treme, fala em segredo...

As estrelas, que o céu cobrem de lado a lado,
A água ondeante dos lagos
Fitam, nela espalhando o seu clarão dourado,
Em timidos afagos.

Solta um pássaro o canto.
Há um cheiro de carne à beira dos caminhos...
E acordam ao luar, como que por encanto,
Estremecendo, os ninhos...

Que indistinto rumor! Vibram na voz do vento
Crebros, vivos arpejos.
E vai da terra e vem do curvo firmamento
Um murmurar de beijos.

Com as asas de ouro, em roda
Do céu, naquela noite úmida e clara, voa
Alguém que a tudo acorda e a natureza toda
De desejos povoa:

É a Volúpia que passa e no ar desliza; passa,
E os coraçóes inflama...
Lá vai! E, sobre a terra, o amor, da curva taça
Que traz às mãos, derrama.

E entretanto, deixando
A alva barba espalhar-se em rolos sobre o leito,

Xenócrates medita, as magras mãos cruzando
Sobre o escamado peito.

Cisma. E tão aturada é a cisma em que flutua
Sua alma, e que a regiões ignotas o transporta,
- Que não sente Lais, que surge seminua
Da muda alcova à porta.


V


É bela assim! Desprende a clâmide! Revolta,
Ondeante, a cabeleira, aos níveos ombros solta,
Cobre-lhe os seios nus e a curva dos quadris,
Num louco turbilhão de áureos fios subtis.
Que fogo em seu olhar! Vê-lo é a seus pés prostrada
A alma ter suplicante, em lágrimas banhada,
Em desejos acesa! Olhar divino! Olhar
Que encadeia, e domina, e arrasta ao seu altar
Os que morrem por ela, e ao céu pedem mais vida,
Para tê-la por ela inda uma vez perdida!
Mas Xenócrates cisma...

É em vão que, a prumo, o sol
Desse olhar abre a luz num radiante arrebol...
Em vão! Vem tarde o sol! Jaz extinta a cratera,
Não há vida, nem ar, nem luz, nem primavera:
Gelo apenas! E, em gelo envolto, ergue o vulcão
Os flancos, entre a névoa e a opaca cerração...

Cisma o sábio. Que importa aquele corpo ardente
Que o envolve, e enlaça, e prende, e aperta loucamente?
Fosse cadáver frio o mundo ancião! talvez
Mais sentisse o calor daquela ebúrnea tez!...

Em vão Laís o abraça, e o nacarado lábio
Chega-lhe ao lábio frio... Em vão! Medita o sábio,
E nem sente o calor desse corpo que o atrai,
Nem o aroma febril que dessa boca sai.

E ela: "Vivo não és! Jurei domar um homem,
Mas de beijos não sei que a pedra fria domem!"

Xenócrates, então, do leito levantou
O corpo, e o olhar no olhar da cortesã cravou:

"Pode rugir a carne... Embora! Dela acima
Paira o espírito ideal que a purifica e anima:
Cobrem nuvens o espaço, e, acima do atro véu
Das nuvens, brilha a estrela iluminando o céu!"

Disse. E outra vez, deixando
A alva barba espalhar-se em rolos sobre o leito,
Quedou-se a meditar, as magras mãos cruzando
Sobre o escamado peito.

sábado, 13 de setembro de 2008

desilusão do vate


Há um misterio que permite ao ser humano
construir um universo em sua mente
e como a realidade muda infelizmente
ele pode  ficar até insano

quantos sonhos são suavemente
acalentados com ardor profundo
quantas rimas se gasta inutilmente
para cantar e protestar o mundo

esse é o destino do poeta, o vate
que insiste em adaptar a natureza
ao modelo que sua alma sempre quiz

só lhe resta depois que a vida passa
tentar  desvencilhar-se da desgraça 
'sòzinho e temeroso num mundo que eu não fiz'

jcf-set 2008
A Pedro Luiz de Oliveira Costa


  jcf-set 2008
  A Pedro Luiz de Oliveira Costa

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

karin momberg - Transcendência


karin momberg - Transcendência
Upload feito originalmente por lidiane_britto

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Estadao.com.br :: Vida & :: Partículas 'conversam' a 10.000 vezes a velocidade da luz

Estadao.com.br :: Vida & :: Partículas 'conversam' a 10.000 vezes a velocidade da luz
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terça-feira, 5 de agosto de 2008

mulher

 nymphefortrayonsoleil

Pos-te Deus sobre a fronte ,a mão piedosa
A que fada o poeta e o soldado
VOlveu a ti o olhar do amor velado
e disse: mulher vai, sê formosa

E tu ,descendo numa onda harmoniosa
pousaste neste solo angustiado
estrela envolta num clarão sagrado
do teu limpido olhar ,a luz radiosa

Mas eu, pudera eu acaso merecerte
deu-te o Senhor mulher, o que é vedado
anjo, deu-te o senhor um mundo à parte

E a mim ,a quem deu olhos para verte
sem poder mais, a mim o que é dado?
Uma voz que te cante e uma alma para amarte
AQ

sexta-feira, 18 de julho de 2008

amazing classical


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segunda-feira, 30 de junho de 2008

mulher.pdf - Google Docs

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godness


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sexta-feira, 27 de junho de 2008

Quantum computing breakthrough arises from unknown molecule | Eureka! Science News

Quantum computing breakthrough arises from unknown molecule | Eureka! Science News

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sábado, 21 de junho de 2008

arjuna

IGNORÂNCIA E

SOFRIMENTO DE ARJUNA

O JOVEM PRÍNCIPE ARJUNA perdeu o seu trono e reino, usurpados por seus parentes. Desanimado, recusa-se a lutar pela reconquista.

Aparece então Krishna e faz ver a Arjuna que deve reconquistar o seu trono e reino, mesmo matando os usurpadores.

Alguns intérpretes, mesmo orientais, vêem nas palavras de Krishna um convite para um guerra justa, em sentido físico, tomando as palavras dele ao pé da letra.

Outros, porém – entre eles Rabindranath Tagore, Mahatma Gandhi, e outros iniciados – interpretam as palavras de Krishna em sentido simbólico, como aliás toda a luta de Arjuna contra os usurpadores, entendendo que Arjuna é o Eu humano cujo reino foi usurpado pelo ego, e Krishna é o Eu plenamente realizado, que convida Arjuna a fazer a sua auto-realização, derrotando seus parentes – os sentidos, a mente e as emoções – que, no homem profano, usurpam injustamente o domínio do divino Eu.

E, como esta reconquista só é possível pelo auto-conhecimento da verdadeira natureza humana, os 18 capítulos da Bhagavad Gita se resumem numa extensa explicação do auto-conhecimento humano, indispensável para a sua auto-realização.

Neste sentido, simboliza o poema da Sublime Canção uma paráfrase, ou um paralelo, a outros poemas da humanidade, como seja o Gênesis da Bíblia, onde o sopro de Deus (Eu) derrotado pelo sibilo da serpente (ego) é convidado a reconquistar o seu reino divino, "esmagando a cabeça da serpente".

Sendo que 24 versículos deste capítulo não passam de uma longa enumeração das diversas tribos em luta, com seus nomes em sânscrito, omitimos esses versículos, que não interessam ao leitor ocidental, nem contêm ensinamento algum, e começamos o livro com o versículo 25, onde começa o diálogo simbólico entre Arjuna e Krishna.

Krishna

25 Eis aí reunidos os parentes dos Kurus!

Sanjaya (o historiador)

26 Então viu Arjuna, nos dois exércitos, homens ligados a ele pelos vínculos do sangue: pais, avós, mestres, primos, filhos, netos, sogros, colegas e outros amigos – todos armados em guerra contra ele.

27 Com o coração dilacerado de dor e profundamente condoído, assim falou ele:

Arjuna

28 Ó Krishna! Ao reconhecer como meus parentes todos esses homens, que devo matar, sinto os meus membros paralisados, a língua ressequida no paladar, o coração a tremer e os cabelos eriçados na cabeça... Falha a força do meu braço... Cai-me por terra o arco que tendera...

29 Mal me tenho em pé... Ardem-me em febre os meus membros... Confusos estão os meus pensamentos... A própria vida parece fugir de mim...

30 Nada enxergo diante de mim senão dores e ais... Que bem resultaria daí, ó Keshava, se eu trucidasse meus parentes?

31 Não, Krishna, não quero vencer. Não quero, deste modo conquistar soberania e glória, riqueza e prazer.

32 Ó Govinda, como poderia semelhante vitória dar-me satisfação? Como me compensariam esses espólios da perda que sofreria? e que gozo teria ainda minha vida, se a possuísse pelo preço do sangue dos únicos que me são caros e sem os quais a vida me seria sem valor?

33 Avós, pais e filhos, aqui os vejo. Mestres, amigos, cunhados, parentes – não, não os quero matar, ó Senhor dos mundos! Nem que eles anseiam por derramar o meu sangue.

34 Não os matarei, Madhusudana, ainda que com isto lograsse domínios sobre os três mundos – menos ainda me seduz a posse da terra.

35 Dores somente me caberiam por semelhante mortandade.

36 Mesmo que os filhos dos Dhritarashtras sejam pecadores, sobre nossa cabeça recairia a culpa, se os matássemos. Não, não é licito matá-los. E como poderíamos ser felizes, sem os nossos parentes, ó Madhava?

37 E se eles, obsedados de cobiça e cólera, não vêem pecado na rebeldia e no sangue derramado.

38 Como poderíamos nós que vemos pecado em matarmos nossos parentes?

39 Quando uma tribo se corrompe, perece a piedade, e com ela perece o povo – a impiedade é contagiosa!

40 Corrompe-se a mulher, mesclando o puro com o impuro, e abre-se o inferno ao destruidor.

41 Até as divindades, privadas dos sacrifícios, tombam dos céus.

42 E essa mescla de puros com impuros produz a ruína das famílias.

43 E o destino dos destruídos é o inferno, consoante as escrituras.

44 Ai, que desgraça seria se trucidássemos nossos parentes, levados pela ambição do poder!

45 Bem melhor seria se nos rendêssemos aos inimigos armados e nos deixássemos matar na luta, sem armas nem defesa.

46 Assim dizendo, em pleno campo de batalha, deixou-se Arjuna tombar no assento da quadriga, e das mãos lhe caíram arco e flechas, porque trazia o coração repleto de amargura.

(in Bhagavad Gita – primeiro capítulo – tradução Huberto Rohden – ALVORADA – São Paulo).

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